Animatographo do Rossio
Vulgo "O Arco Bandeira" por se situar logo a seguir ao Arco do mesmo nome, no Rossio, como era conhecido pela juventude dos anos 60, foi o primeiro cinema em que entrei sózinho.
Já não me recordo do preço dos bilhetes, que davam direito a se quisesse estar o dia inteiro dentro do cinema (muitos o faziam) pois o programa diário constava de dois filmes em sessões continuas.
Entrava-se a qualquer hora, pois era sempre possível apanhar o resto do filme mais à frente.
Adorava os pastéis de nata, que nos intervalos vinham em grandes tabuleiros negros de chapa, acabados de sair da fábrica, ali bem pertinho, no Martin Moniz a "dois uma croa" (50 centavos de escudo, que nem dá cálculo para o euro).
Lembro que quando os Cowboys "os bons"! davam tarei nos indios "os maus"! era uma algazarra dentro do cinema...tudo aos berros e a bater palmas...
..."Segundo José Manuel Fernandes (1995), os primórdios das salas de cinema iniciam-se em Lisboa, por volta de 1900, no espaço central polarizado entre o Chiado e a Baixa, a título de experiência e para elites.
Contudo, há medida que se foram tornando populares, estas salas procuraram áreas junto às "portas das cidade", já que o cinema assumia-se como um sucessor das feiras, circos e teatros que aí se realizavam desde o tempo do mediaval.
Identificam-se logo dois eixos principais - o do Rossio (Rua dos Restauradores, Parque Mayer, Avenida), considerado um eixo fino e elgante, correspondendo à zona residencial e uma das mais ricas da cidade, que partia das velhas "portas de Santo Antão"; e o do Martim Moniz (Rua da Palma, Av. Almirante Reis e envolvente) que, partindo das "portas da Mouraria", se encaixava mais na zona pequeno-burguesa e popular da cidade.
A pouco e pouco, surge para o cinema uma autonomia construtiva e formal, marcada em Lisboa pelo Animatógrafo do Rossio, o primeiro cinema que irá ser abordado neste blog.
O Animatógrafo do Rossio foi inaugurado em 8 de Dezembro de 1907 e é a partir daqui que se começa a viagem aos cinemas portugueses.
Foi a primeira sala de cinema em Portugal com expressão arquitectónica qualificada, incluída na chamada Arte Nova curvílinea, característica da escola franco-belga de Horta e Guimard.
É um dos exemplos mais originais e interessentas que ainda existe.
Fica situado na Rua dos Sapateiros, n.º 229, junto ao Arco da Bandeira, no Rossio, e possui uma fachada com formas de madeira esculpida e pintada, enquadrando painéis de azulejos figurativos (da autoria de M. Queriol), que se encontram entre as portas e a bilheteira e que são ornamentados com duas figuras femininas, com cabelos entrelaçados e segurando entre as mãos dois caules de plantas, rematadas por lâmpadas.
Ao centro tem a bilheteira, sendo que a entrada efectua-se pela porta da direita e a saída efectua-se pela porta da esquerda.
Assim que se entra neste cinema, vê-se cortinados da parte interior das portas, indo directamente para o auditório.
Desde a década de 90 que este cinema tem sido utilizado como sex-shop, o que é uma pena".
Fontes:
Fernandes, José Manuel (1995) Cinemas de Portugal. Edições Inapa.
in "Cinemas do Paraíso"
http://cinematreasures.org/theater/13272/
http://revelarlx.cm-lisboa.pt/gca/?id=733
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