Um braço vigoroso não é mais aguerrido contra a lança do que um braço frágil;
são o carácter e a coragem que fazem o guerreiro.
Eurípedes
Despedida eterna
Zé Luis: começámos esta tua última viagem (tu gostavas de viagens) na
cama 56 dos serviços de cirurgia 1 do Hospital de Santa Maria.
cama 56 dos serviços de cirurgia 1 do Hospital de Santa Maria.
Lia-te poesia e um dia parámos neste poema da Sophia de Mello Breyner:
”Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A Força dos teus sonhos é tão forte,
Que tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias”.
Onde sempre acabou cada ilusão,
A Força dos teus sonhos é tão forte,
Que tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias”.
Assim foi.
No teu visionário e intenso mundo, a voracidade de um cancro traiçoeiro
não te consumiu a alegria, a coragem, a liberdade.
Entraste pela morte dentro de olhos abertos.
No teu visionário e intenso mundo, a voracidade de um cancro traiçoeiro
não te consumiu a alegria, a coragem, a liberdade.
Entraste pela morte dentro de olhos abertos.
O mundo que habitavas era
rico de ideias, de sonhos, de projectos, de honradez e carinho.
Percebemos o que ia acontecer quando no fundo do teu olhar sorridente
brilhava uma estrela de tristeza.
rico de ideias, de sonhos, de projectos, de honradez e carinho.
Percebemos o que ia acontecer quando no fundo do teu olhar sorridente
brilhava uma estrela de tristeza.
Quando te deixava ao fim do dia na
cama 56 e te trazia no coração enquanto descia a Alameda da Cidade
Universitária a respirar o teu ar da Universidade, das aulas e dos alunos
que adoravas, do futuro em que acreditavas sempre.
Foste intolerável com a corrupção, com os cobardes e oportunistas.
cama 56 e te trazia no coração enquanto descia a Alameda da Cidade
Universitária a respirar o teu ar da Universidade, das aulas e dos alunos
que adoravas, do futuro em que acreditavas sempre.
Foste intolerável com a corrupção, com os cobardes e oportunistas.
Não suportavas facilidades.
Resististe à sordidez, à subserviência, à canalhice
disfarçada de respeitabilidade e morreste como sempre viveste - livre.
Uma palavra para aqueles que te acompanharam nesta última viagem:
para os melhores médicos do mundo, para as melhores equipas de
enfermagem e de apoio, num exemplo de inexcedível dedicação ao
serviço médico público.
disfarçada de respeitabilidade e morreste como sempre viveste - livre.
Uma palavra para aqueles que te acompanharam nesta última viagem:
para os melhores médicos do mundo, para as melhores equipas de
enfermagem e de apoio, num exemplo de inexcedível dedicação ao
serviço médico público.
Vivi com emoção diária o carinho com que te
cuidaram.
Uma palavra de gratidão sentida para o Professor Luis Costa e para o
Paulo Costa. E para um velho amigo de sempre o Miguel.
Também para Laura e para o Jorge e para a minha mãe e toda a família
que nunca te deixou.
cuidaram.
Uma palavra de gratidão sentida para o Professor Luis Costa e para o
Paulo Costa. E para um velho amigo de sempre o Miguel.
Também para Laura e para o Jorge e para a minha mãe e toda a família
que nunca te deixou.
Por fim uma palavra para aqueles amigos que inventaram uma barricada contra a morte no serviço de cirurgia 1, cama 56, e te ajudaram a escrever, a pensar, a continuar a trabalhar: o João Gama, o João Pereira e senhor Albuquerque, cada um à sua maneira.
Suspiraste nos meus braços pela última vez cerca da 1,15 da madrugada
do dia 14 de Maio.
Suspiraste nos meus braços pela última vez cerca da 1,15 da madrugada
do dia 14 de Maio.
Vai faltar-me a tua mão a agarrar na minha enquanto passeávamos e
conversávamos.
Provavelmente uma saudade ridícula, perante a força do exemplo e da
obra que nos deixaste e me foi trazido por todos aqueles que te
homenagearam - a quem deixo a tua eterna gratidão.
Tenham a coragem de continuar.
[16.05.2010 - Maria José Morgado]
conversávamos.
Provavelmente uma saudade ridícula, perante a força do exemplo e da
obra que nos deixaste e me foi trazido por todos aqueles que te
homenagearam - a quem deixo a tua eterna gratidão.
Tenham a coragem de continuar.
[16.05.2010 - Maria José Morgado]
José Luís Saldanha Sanches
Lisboa, 11 março 1944 - Lisboa, 14 maio 2010
Foi um jurisconsulto e professor universitário português.
Especialista em Direito Fiscal, leccionou na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Especialista em Direito Fiscal, leccionou na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Gentileza do amigo Raul P.S.
JJ edição
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