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Portugal deu "Novos Mundos ao Mundo"......Imagens para dar a conhecer um pouco daquilo que a nossa terra tem de melhor e mais bonito, da beleza das nossas mulheres Portuguesas, das Artes e de locais por onde sirandei, de trabalhos que eu executei, e de outros que admirei.

14 de outubro de 2010



UM ELÉCTRICO CHAMADO DESEJO

De Tennesse Willians por Diogo Infante no Teatro Nacional D. Maria II até 31 de Outubro.

Eis um clássico, a receita mágica que faz esgotar a sala dourada de teatro lisboeta: mistura-se um grande texto de teatro, uma peça de Tennesse Williams que muitos recordam dos ecrãs do cinema americano, encenado por um famoso actor, agora encenador e director do Teatro Nacional, que conhece o outro lado de lá e que toda a gente conhece e aprecia, convidam-se excelentes actores, alguns deles famosos e estimados pelo público, uma fabulosa e grandiosa cenografia e luz que encantam qualquer espectador mais inclinado à maledicência gratuita e voilá… é um espectáculo que promete casa cheia até ao fim!

Todo o enredo se centra num jogo de polaridades.
Uma viúva americana do sul, aristocrata falida mas requintada, educada para agradar e ser agradada, visita por uns tempos a sua irmã de bom coração a Nova Orleães.

Chega a essa cidade da América do Norte, num eléctrico chamado “Desejo” e é assim que conhece o seu cunhado, filho de emigrantes polacos, homem rude, violento e sem tacto, a seu ver, um péssimo partido para sua irmã, mas na verdade, demasiado atraente, viril e magnético ao seu olhar.

Todo o espectáculo é um jogo de contraste entre personagens, formas de viver e entre conceitos como: desejo versus dependência, poder da sedução vs dependência em ser agradado e agradar, desejo vs vício, fragilidade vs brutalidade, amor vs amargura, violência vs amor, casa cheia vs solidão, verdade vs mentiras, bom nome vs má fama, desespero vs ajuda e tranquilidade, truques e manhas vs transparência, passado vs futuro, homem vs mulher.

Blanche Dubois, interpretada fabulosamente por Alexandra Lencastre, que regressa ao teatro 12 anos depois e que se estreia no palco nacional com uma enorme expectativa e entrega, parece e quer parecer alguém que não é, um passado que não teve, um futuro que lhe está vedado e pretende fugir a uma realidade que dói e assusta qualquer mulher que naquele tempo, anos 40, vê a sua vida desgraçada, sem dinheiro, sem homem, sem emprego, sem rumo e sem solução aparente que não o recurso à casa e comida da sua boa irmã, Stella.

Todo o seu plano seria de feição se não fosse a astúcia de Stanley Kowalski, seu cunhado, filho de emigrantes polacos, viciado em álcool, jogo e agressividade natural, que trabalhou duro para ter o pouco que tem, que suou para construir uma família e amigos e que aprendeu na escola da vida o suficiente para desconfiar e descobrir os segredos de Blanche.

Blanche, que não quer realismo mas magia na sua vida, não consegue assim enfeitiçar nem o seu cunhado nem o seu pretendente e futuro radioso, a esperança e a sua promessa de sorriso, Mitch.

Porém, a marca de Blanche nas suas vidas familiares será, aparentemente, duradoura e irreversível.
O desejo atraiçoa-a.
A dependência da vida, do dinheiro e do amor dos outros vira-lhe as costas e devolve-lhe o passado e a solidão.

O seu fim é infeliz, triste e surpreendente.
Blanche é vítima de si mesma, da armadilha dos seus filmes e ilusões, da sua educação aristocrata decadente, muda e inútil e sempre continuará a depender “da bondade de estranhos”.

Fica no ar, a nosso ver, a história popular do Pedro e do Lobo bem como a dúvida se o fim de Blanche terá sido o antes daquela visita a Nova Orleães.
Albano Jerónimo é, sem qualquer dúvida “the right man for the job”: cru, verdadeiro, brutal, violento, sensual, surpreendente e arrebatador em palco.

Trata por tu, com a sua arte e engenho, sem pestanejar, o talento da actriz Alexandra Lencastre, apesar de pertencer a uma nova geração de actores.
Um actor promissor e genial, o nosso Marlon Brando, tem como ele, estilo, o olhar penetrante, o charme e a arte de representar.

Lúcia Moniz, não canta mas encanta, pois interpreta lindamente Stella, tem a “luz” que o encenador Diogo Infante disse ter encontrado e brilha, de facto, em palco aos olhos de qualquer espectador mais desatento.

uma delícia ouvi-la e vê-la a representar, foi uma escolha do elenco muito feliz e acertada por parte do encenador.

Mitch um gentleman, interpretado por Pedro Laginha, é igualmente muito bem escolhido.
Este actor consegue comover, quase até o coração de Blanche, e dar à sua personagem a naturalidade e o lado leal, naif e amoroso de qualquer homem bom, solteiro de meia-idade que ainda vive com a sua mãe.

Todos os outros actores secundários também são bastante bons.
Como tal, todos estão de parabéns, eis uma obra prima do Sr. Encenador-actor-director - foi na qualidade de director que escolheu a peça, na qualidade de encenador que criou este espectáculo e é com o saber da experiência de actor que ajudou os seus actores a imprimir a arte que faz dela o que ela é -, Diogo Infante que não só tem o mérito de ter ousado e desafiado toda a gente para um projecto ambicioso como este, que não era encenado há vinte anos em Portugal, como soube encenar e direccioná-lo para um bom porto, consagrado por mérito e visivelmente, por grande prazer.

A cenografia de Catarina Amaro está exemplar.
A construção do edifício, das escadas em caracol para os vizinhos e do interior da casa, quando roda o palco, dá cor, textura e vida real e credível a todas as cenas.
A queda simulada de chuva também foi um pormenor criativo realista e soberbo.

O desenho de luz de Nuno Meira também foi bem executado e favorável a um ambiente emocional adequado a cada momento.
Eis assim um espectáculo a não perder até ao fim de Outubro que justifica uma fila de espera na compra do bilhete em troca de um garantido serão de bom entretenimento e lazer cultural.

Por Alexandra Saraiva Rua
in Rua de Baixo http://www.ruadebaixo.com/um-electrico-chamado-desejo.html
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