CH-CH-CH-CHANGES pela ESTC
“O espectáculo que não é um espectáculo porque é exercício, mas que é espectacular”, com um texto patchwork home made representado pela nova geração de actores que traz a lume irreverências, críticas e reflexões sobre o que é a arte e a academia nos dias de hoje.
Eis um espectáculo de teatro irreverente e fresco, que esteve em cena na Sala Estúdio do Teatro D. Maria II, escrito e representado pelos finalistas de teatro da Escola Superior de Teatro e Cinema que chamam a si a responsabilidade de fazer ouvir a sua voz no mundo do teatro português, em formato patchwork de cenas e de momentos inspirados em mil e uma referências exteriores, de uma forma própria e dinâmica que só a geração do youtube consegue saber e fazer, questionando o que é arte original, o que é fazer arte, que é ser artista e o que é ser inspirado ou plagiado nos tempos de hoje.
Constantemente se culpam que aquela cena mais não é de um roubo de outra obra registada ou partilhada em livros, televisão, cinema e internet e se tal será legítimo e se tais direitos de autor estarão violados com aquela representação.
Todas as cenas são uma roda viva de diálogos, de retratos de episódios, de conversas do dia-a-dia e de performances de karaoke e de momentos musicais.
Tudo isto separado entre si por uma cortina de néon azul sonora e visual que grita “Ch-ch-ch-chaaange”, fixa no tecto de todo o cenário, que tal como um sino que chama para a hora da missa, serve de input para mudar de cena, com surpresa, dinamismo e intensidade.
O texto foi escrito por todos os finalistas e resulta de uma amálgama de acesas discussões e reflexões de todos eles, ao longo de cinco semanas, num formato tipo Projecto Runaway - um reality-show onde os participantes aspiram e testam as suas qualidades e talentos -, com a supervisão do aluno de dramaturgia, Ricardo Marques, (que também entra em cena, mas agora apenas tocando notas musicais) e aborda os principais temas que preocupam estes jovens actores.
O início do espectáculo, depois de um breve introdução cénica (Miguel Morazzo) e personalizada (Samuel Alves) - ou o mote de todo o espectáculo, porque se repete várias vezes ao longo do mesmo, relembrando o espectador que esta é a “prova dos nove” e ao mesmo tempo, uma bela celebração da sonhada mudança que está a chegar, motivo sempre badalado igualmente com a vibrante palavra cantiga “Change” - dá-se com hilariante festa de “Feliz ano novo!!”, onde todos, alegadamente, festejam o começo de um novo ano ou, metaforicamente, o começo de uma nova vida no teatro português.
Entre muitas cenas, encontramos momentos singulares como:
A provocação de um lanche e chá unisexo pois, em vez das habituais “senhoras do chá das cinco” surgem três jovens homossexuais que questionam o porquê dos preconceitos das pré-definições relativamente às escolhas sexuais e segredos da felicidade na nossa sociedade nos tempos actuais.
Por exemplo, perguntam: “Qual é a diferença entre um Homem e uma Mulher? E respondem e explicam: Nenhuma, “É só Design!, ok?”. Esta cena foi inspirada no vídeo de Chris Crocker que se encontra no youtube intitulado “Individuality/Gender”.
Retrata o seu monólogo virtual, revigorado por desabafos pertinentes e actuais dos seus “colegas de chá” que parecem quer dar chá a quem não tem (a quem não sabe nem deixa viver feliz quem sabe), muito bem representada pelos três finalistas João Duarte Costa, Nuno Fernandes e Manuel Moreira. Brincam com os típicos tiques gay e com as deficiências físicas e suas limitações na performance de uma conversa que, apesar de poder parecer trivial, não é, pois preocupam-se em ”ajudar alguém a reconhecer que aquilo que faz, aquilo que lhe é fácil fazer, é exactamente o que deve fazer”.
Um momento plástico e de performance musical inesperado, com um design kitsch de cenografia e de guarda-roupa muito bem feito e recriado, de onde salta uma estrela, um cantor, Adam Green (David Granada) vestido a rigor em franco diálogo com uma lagosta viva que se zanga por nada ser como devia ser.
Diz esta, furiosa, entre muitas coisas, que “não é suficiente as miúdas serem bonitas” para se ter criado um bom momento de arte e que todos são “parasitas” quando “pegam nas ideias dos outros e fazem um brilharete com elas”. Tudo porque “a rapaziada não tem boas ideias”.
A lagosta, representada pelo actor finalista Óscar Silva, apesar de ser um elemento surrealista, sabe tirar partido do que diz, de como o dizer e das limitações físicas da sua personagem.
Surge o “Quarteto Fantástico” – Nuno Leão, Pedro Barreiro, Tiago de Almeida Dias que, de quarteto, só tem o nome e o número “4” nos seus fatos de surf espacial. São os deuses de outrora.
São os responsáveis por tudo no teatro acontecer, brilhar e encantar.
Sem eles “a cena morre”.
Brincam com o público e com os seus ”1415 minutos de fama”.
Dizem que se juntaram “em 1999 com o objectivo de tornar o mundo melhor”.
Destaca-se a presença em palco e expressividade do super herói Pedro Barreiro e a performance final dos três a citar as fabulosas regras “rígidas e intransponíveis” de uma “técnica milenar” que um bom super herói do teatro segue à risca para tudo correr como se espera.
Misturam-se super heróis com mortais cantores e lagosta.
Todos bebem chá e constatam que um super herói tem sempre um alter-ego, que é “sempre fraco, inseguro e cobarde” e que só no papel de super-herói se consegue redimir e imortalizar do resto da humanidade.
Isso vê-se bem no caso do Super Homem versus Clark Kent, dizem eles.
E voilá, eis outra cena que “se fosse artistas como deve ser não teriam roubado o monólogo final do Kill Bill, o monólogo do Super-Homem”.
E com isto, um pretexto para mais uma discussão viva do que são direitos de autor e pirataria cibernáutica.
Concluem que a única diferença, dizem, entre a pirataria dos corsários com a pirataria virtual é a pala.
Hoje em dia, constata a lagosta, “não é preciso embarcar num barco, apanhar escorbuto e ser mordido por um rato para ser pirata.
A internet é um oceano aberto, qualquer um pode largar âncora, atracar num porto e confortavelmente encher o seu barco com mercadoria ilegal.
Esse é o problema a resolver, o grande desafio”.
Para tranquilizar o público depois destas polémicas discussões, surgem performances bem dispostas e engraçadas dos “ ABBAtar”, com Ana Marta, Marta Barahona de Abreu, Paulo Neto e Emílio Sanchez, grupo musical apresentado por uma voz do além vestida de boxers (Gustavo Vargas).
Destaca-se a representação feminina bastante expressiva e a inesperada presença de um Erasmus em espanhol.
Mas a performance do final do espectáculo é bem fiel e executada em karaoke e ao vídeo que passa em simultâneo projectado na parede.
É muito divertido e apelativo deixar-se seduzir pelo jogo de “descubra as diferenças”.
E mais divertido ainda, assistir a dois momentos paralelos mas simultâneos com um elemento em comum, pois junta-se a isto a cénica e emblemática festa de ano novo e com isso, brilha a prestação versátil e cómica da Marta Barahona de Abreu, que corre, graciosamente e em tempo, de uma cena para a outra.
Sem aparente ligação nem pertinente graça, é o momento do apresentador louco (Gustavo Vargas) que faz perguntas que não esperam resposta e que, juntamente com um grupo de terroristas, à semelhança do que acontece no videoclip da música “Drunk Girls” dos LCD SoundSystem, aparecem vestidos de branco e de vontades bizarras e infernizam espalhafatosamente toda a gente. Circulam, raptam, intimidam, colam pessoas umas às outras com fita-cola amarelo frágil e forçam os participantes involuntários do jogo a engolir esparguete e o que tiver de ser e “vier por bem”, criando-se o caos com direito a alegres serpentinas no ar.
Há momentos para todos os gostos e para todos os estilos.
E como tal, não falta o clássico sketch irreverente do actor pensador nu (Paulo Neto) no seu quarto (ex-sala de estar) que partilha pensamentos, desabafos e frustrações… Mas apesar de estar ao natural, não se sente naturalidade no seu discurso.
Tem mais naturalidade e frescura a lagosta que esgrime com o cantor argumentos teóricos e sólidos sobre a evolução darwinista e a (r)evolução tecnológica, concluindo ironicamente que, nos dias de hoje, ”quando alguém percebe que faz parte da natureza, isso acaba por se tornar numa experiência mística”.
Assim como se repete a festa de ano novo, ao longo de todo o espectáculo, também se repete uma pergunta que não nos deixa ficar indiferentes à energia psicológica de todo o espectáculo nem esquecer o que simboliza este exercício final de teatro e a sua consequência na vida real destes novos actores -” Será que vamos conseguir dormir logo à noite?” é o que perguntam em palco e repetidamente uns aos outros.
O fim começa com as personagens do princípio - Miguel Morazzo apresenta mais duas peças do seu cenário, em passos de desfile “Moda Lisboa”, agora “travestido” de Beyoncé e de Michael Jackson - e com a benção dos super heróis “Quarteto Fantástico”, que cantando clichés e frases populares deliciosas do nosso dia-a-dia, encerram musicalmente o ponto final de mais um curso de teatro da Escola Superior de Teatro e Cinema.
Destaca-se o bom trabalho de design de cena de Carmo Medeiros, Miguel Morazzo (os três cenários por si vestidos daqueles dois famosos cantores e de David Bowie, no início) e de Rute Reis, quer na cenografia (cenários da sala de estar e de um castiço carro cor-de-rosa na praia) quer nos adereços (lagosta viva) e guarda-roupa (kitsch, super heróis, ABBAtar e adereços dos anos 60/70). Da luz nada a dizer, nem de bom nem de mau.
Perante toda a agitação teatral, passa despercebida excepto nos momentos musicais a três dos super heróis.
O espectáculo teve a direcção de Pedro Penim, professor convidado para encenar este espectáculo, que juntamente com a supervisão de António Lagarto (design de cena), Armando Nascimento Rosa (dramaturgia), Marisa F. Falcón e Miguel Cruz (produção) ajudaram a que este exercício final cumprisse honrosamente o seu destino.
Maria Repas e Luca Aprea foram os professores de apoio, respectivamente, na voz e no corpo.
Parabéns a todos! A todos estes alunos, professores e a todos aqueles que estão nos bastidores deste trabalho mas que muito contribuíram para o resultado final, como os alunos de produção (Catarina Mendes, Francisca Rodrigues e Joana Galeano), que se constata pelo espectáculo que está à vista e em cena, de entrada gratuita mas sujeito a reserva prévia, na Sala Estúdio do Teatro D. Maria II até ao próximo domingo, dia 27 de Junho de 2010.
Bem haja ao Teatro D. Maria II proporciona a jovens actores como estes se estreiem ou que brilhem num palco de orgulho nacional e de timbre vaidoso, e à Escola Superior de Teatro e Cinema que todos os anos é responsável, formadora e tutora de novas gerações de actores.
Por Alexandra Saraiva Rua
In ruadebaixo.com
“O espectáculo que não é um espectáculo porque é exercício, mas que é espectacular”, com um texto patchwork home made representado pela nova geração de actores que traz a lume irreverências, críticas e reflexões sobre o que é a arte e a academia nos dias de hoje.
Eis um espectáculo de teatro irreverente e fresco, que esteve em cena na Sala Estúdio do Teatro D. Maria II, escrito e representado pelos finalistas de teatro da Escola Superior de Teatro e Cinema que chamam a si a responsabilidade de fazer ouvir a sua voz no mundo do teatro português, em formato patchwork de cenas e de momentos inspirados em mil e uma referências exteriores, de uma forma própria e dinâmica que só a geração do youtube consegue saber e fazer, questionando o que é arte original, o que é fazer arte, que é ser artista e o que é ser inspirado ou plagiado nos tempos de hoje.
Constantemente se culpam que aquela cena mais não é de um roubo de outra obra registada ou partilhada em livros, televisão, cinema e internet e se tal será legítimo e se tais direitos de autor estarão violados com aquela representação.
Todas as cenas são uma roda viva de diálogos, de retratos de episódios, de conversas do dia-a-dia e de performances de karaoke e de momentos musicais.
Tudo isto separado entre si por uma cortina de néon azul sonora e visual que grita “Ch-ch-ch-chaaange”, fixa no tecto de todo o cenário, que tal como um sino que chama para a hora da missa, serve de input para mudar de cena, com surpresa, dinamismo e intensidade.
O texto foi escrito por todos os finalistas e resulta de uma amálgama de acesas discussões e reflexões de todos eles, ao longo de cinco semanas, num formato tipo Projecto Runaway - um reality-show onde os participantes aspiram e testam as suas qualidades e talentos -, com a supervisão do aluno de dramaturgia, Ricardo Marques, (que também entra em cena, mas agora apenas tocando notas musicais) e aborda os principais temas que preocupam estes jovens actores.
O início do espectáculo, depois de um breve introdução cénica (Miguel Morazzo) e personalizada (Samuel Alves) - ou o mote de todo o espectáculo, porque se repete várias vezes ao longo do mesmo, relembrando o espectador que esta é a “prova dos nove” e ao mesmo tempo, uma bela celebração da sonhada mudança que está a chegar, motivo sempre badalado igualmente com a vibrante palavra cantiga “Change” - dá-se com hilariante festa de “Feliz ano novo!!”, onde todos, alegadamente, festejam o começo de um novo ano ou, metaforicamente, o começo de uma nova vida no teatro português.
Entre muitas cenas, encontramos momentos singulares como:
A provocação de um lanche e chá unisexo pois, em vez das habituais “senhoras do chá das cinco” surgem três jovens homossexuais que questionam o porquê dos preconceitos das pré-definições relativamente às escolhas sexuais e segredos da felicidade na nossa sociedade nos tempos actuais.
Por exemplo, perguntam: “Qual é a diferença entre um Homem e uma Mulher? E respondem e explicam: Nenhuma, “É só Design!, ok?”. Esta cena foi inspirada no vídeo de Chris Crocker que se encontra no youtube intitulado “Individuality/Gender”.
Retrata o seu monólogo virtual, revigorado por desabafos pertinentes e actuais dos seus “colegas de chá” que parecem quer dar chá a quem não tem (a quem não sabe nem deixa viver feliz quem sabe), muito bem representada pelos três finalistas João Duarte Costa, Nuno Fernandes e Manuel Moreira. Brincam com os típicos tiques gay e com as deficiências físicas e suas limitações na performance de uma conversa que, apesar de poder parecer trivial, não é, pois preocupam-se em ”ajudar alguém a reconhecer que aquilo que faz, aquilo que lhe é fácil fazer, é exactamente o que deve fazer”.
Um momento plástico e de performance musical inesperado, com um design kitsch de cenografia e de guarda-roupa muito bem feito e recriado, de onde salta uma estrela, um cantor, Adam Green (David Granada) vestido a rigor em franco diálogo com uma lagosta viva que se zanga por nada ser como devia ser.
Diz esta, furiosa, entre muitas coisas, que “não é suficiente as miúdas serem bonitas” para se ter criado um bom momento de arte e que todos são “parasitas” quando “pegam nas ideias dos outros e fazem um brilharete com elas”. Tudo porque “a rapaziada não tem boas ideias”.
A lagosta, representada pelo actor finalista Óscar Silva, apesar de ser um elemento surrealista, sabe tirar partido do que diz, de como o dizer e das limitações físicas da sua personagem.
Surge o “Quarteto Fantástico” – Nuno Leão, Pedro Barreiro, Tiago de Almeida Dias que, de quarteto, só tem o nome e o número “4” nos seus fatos de surf espacial. São os deuses de outrora.
São os responsáveis por tudo no teatro acontecer, brilhar e encantar.
Sem eles “a cena morre”.
Brincam com o público e com os seus ”1415 minutos de fama”.
Dizem que se juntaram “em 1999 com o objectivo de tornar o mundo melhor”.
Destaca-se a presença em palco e expressividade do super herói Pedro Barreiro e a performance final dos três a citar as fabulosas regras “rígidas e intransponíveis” de uma “técnica milenar” que um bom super herói do teatro segue à risca para tudo correr como se espera.
Misturam-se super heróis com mortais cantores e lagosta.
Todos bebem chá e constatam que um super herói tem sempre um alter-ego, que é “sempre fraco, inseguro e cobarde” e que só no papel de super-herói se consegue redimir e imortalizar do resto da humanidade.
Isso vê-se bem no caso do Super Homem versus Clark Kent, dizem eles.
E voilá, eis outra cena que “se fosse artistas como deve ser não teriam roubado o monólogo final do Kill Bill, o monólogo do Super-Homem”.
E com isto, um pretexto para mais uma discussão viva do que são direitos de autor e pirataria cibernáutica.
Concluem que a única diferença, dizem, entre a pirataria dos corsários com a pirataria virtual é a pala.
Hoje em dia, constata a lagosta, “não é preciso embarcar num barco, apanhar escorbuto e ser mordido por um rato para ser pirata.
A internet é um oceano aberto, qualquer um pode largar âncora, atracar num porto e confortavelmente encher o seu barco com mercadoria ilegal.
Esse é o problema a resolver, o grande desafio”.
Para tranquilizar o público depois destas polémicas discussões, surgem performances bem dispostas e engraçadas dos “ ABBAtar”, com Ana Marta, Marta Barahona de Abreu, Paulo Neto e Emílio Sanchez, grupo musical apresentado por uma voz do além vestida de boxers (Gustavo Vargas).
Destaca-se a representação feminina bastante expressiva e a inesperada presença de um Erasmus em espanhol.
Mas a performance do final do espectáculo é bem fiel e executada em karaoke e ao vídeo que passa em simultâneo projectado na parede.
É muito divertido e apelativo deixar-se seduzir pelo jogo de “descubra as diferenças”.
E mais divertido ainda, assistir a dois momentos paralelos mas simultâneos com um elemento em comum, pois junta-se a isto a cénica e emblemática festa de ano novo e com isso, brilha a prestação versátil e cómica da Marta Barahona de Abreu, que corre, graciosamente e em tempo, de uma cena para a outra.
Sem aparente ligação nem pertinente graça, é o momento do apresentador louco (Gustavo Vargas) que faz perguntas que não esperam resposta e que, juntamente com um grupo de terroristas, à semelhança do que acontece no videoclip da música “Drunk Girls” dos LCD SoundSystem, aparecem vestidos de branco e de vontades bizarras e infernizam espalhafatosamente toda a gente. Circulam, raptam, intimidam, colam pessoas umas às outras com fita-cola amarelo frágil e forçam os participantes involuntários do jogo a engolir esparguete e o que tiver de ser e “vier por bem”, criando-se o caos com direito a alegres serpentinas no ar.
Há momentos para todos os gostos e para todos os estilos.
E como tal, não falta o clássico sketch irreverente do actor pensador nu (Paulo Neto) no seu quarto (ex-sala de estar) que partilha pensamentos, desabafos e frustrações… Mas apesar de estar ao natural, não se sente naturalidade no seu discurso.
Tem mais naturalidade e frescura a lagosta que esgrime com o cantor argumentos teóricos e sólidos sobre a evolução darwinista e a (r)evolução tecnológica, concluindo ironicamente que, nos dias de hoje, ”quando alguém percebe que faz parte da natureza, isso acaba por se tornar numa experiência mística”.
Assim como se repete a festa de ano novo, ao longo de todo o espectáculo, também se repete uma pergunta que não nos deixa ficar indiferentes à energia psicológica de todo o espectáculo nem esquecer o que simboliza este exercício final de teatro e a sua consequência na vida real destes novos actores -” Será que vamos conseguir dormir logo à noite?” é o que perguntam em palco e repetidamente uns aos outros.
O fim começa com as personagens do princípio - Miguel Morazzo apresenta mais duas peças do seu cenário, em passos de desfile “Moda Lisboa”, agora “travestido” de Beyoncé e de Michael Jackson - e com a benção dos super heróis “Quarteto Fantástico”, que cantando clichés e frases populares deliciosas do nosso dia-a-dia, encerram musicalmente o ponto final de mais um curso de teatro da Escola Superior de Teatro e Cinema.
Destaca-se o bom trabalho de design de cena de Carmo Medeiros, Miguel Morazzo (os três cenários por si vestidos daqueles dois famosos cantores e de David Bowie, no início) e de Rute Reis, quer na cenografia (cenários da sala de estar e de um castiço carro cor-de-rosa na praia) quer nos adereços (lagosta viva) e guarda-roupa (kitsch, super heróis, ABBAtar e adereços dos anos 60/70). Da luz nada a dizer, nem de bom nem de mau.
Perante toda a agitação teatral, passa despercebida excepto nos momentos musicais a três dos super heróis.
O espectáculo teve a direcção de Pedro Penim, professor convidado para encenar este espectáculo, que juntamente com a supervisão de António Lagarto (design de cena), Armando Nascimento Rosa (dramaturgia), Marisa F. Falcón e Miguel Cruz (produção) ajudaram a que este exercício final cumprisse honrosamente o seu destino.
Maria Repas e Luca Aprea foram os professores de apoio, respectivamente, na voz e no corpo.
Parabéns a todos! A todos estes alunos, professores e a todos aqueles que estão nos bastidores deste trabalho mas que muito contribuíram para o resultado final, como os alunos de produção (Catarina Mendes, Francisca Rodrigues e Joana Galeano), que se constata pelo espectáculo que está à vista e em cena, de entrada gratuita mas sujeito a reserva prévia, na Sala Estúdio do Teatro D. Maria II até ao próximo domingo, dia 27 de Junho de 2010.
Bem haja ao Teatro D. Maria II proporciona a jovens actores como estes se estreiem ou que brilhem num palco de orgulho nacional e de timbre vaidoso, e à Escola Superior de Teatro e Cinema que todos os anos é responsável, formadora e tutora de novas gerações de actores.
Por Alexandra Saraiva Rua
In ruadebaixo.com
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