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Portugal deu "Novos Mundos ao Mundo"......Imagens para dar a conhecer um pouco daquilo que a nossa terra tem de melhor e mais bonito, da beleza das nossas mulheres Portuguesas, das Artes e de locais por onde sirandei, de trabalhos que eu executei, e de outros que admirei.

27 de janeiro de 2009

Poeta Bocage





Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage
Poeta português e, possivelmente, o maior representante do arcadismo lusitano.

Embora ícone deste movimento literário, é uma figura inserida num período de transição do estilo clássico para o estilo romântico que terá forte presença na literatura portuguesa do século XIX.

Era primo em segundo grau do zoólogo José Vicente Barbosa du Bocage.

Biografia
Nascido em Setúbal às três horas da tarde de 15 de Setembro de 1765, falecido em Lisboa na manhã de 21 de Dezembro de 1805, era filho do bacharel José Luís Soares de Barbosa, juiz de fora, ouvidor, e depois advogado, e de D. Mariana Joaquina Xavier l'Hedois Lustoff du Bocage, cujo pai era francês.

Teve cinco irmãos.
O pai do poeta, José Luís Soares de Barbosa, nasceu em Setúbal, em 1728.
Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, foi juiz de fora em Castanheira e Povos, cargo que exercia durante o Terramoto de 1755, que arrasou aquelas povoações.

Em 1765, foi nomeado ouvidor em Beja.
Acusado de ter desviado a décima enquanto ouvidor, possivelmente uma armadilha para o prejudicar, visto ser próximo de pessoas que foram vítimas de Pombal, o pai de Bocage foi preso para o Limoeiro em 1771, nunca chegando a fazer defesa das suas acusações.

Com a morte do rei D. José I, em 1777, dá-se a "viradeira", que valeu a liberdade ao pai do poeta, que voltou para Setúbal, onde foi advogado.

A sua mãe era segunda sobrinha da célebre poetisa francesa, madame Anne-Marie Le Page du Bocage, tradutora do "Paraíso" de Milton, imitadora da "Morte de Abel", de Gessner, e autora da tragédia "As Amazonas" e do poema épico em dez cantos "A Columbiada", que lhe mereceu a coroa de louros de Voltaire e o primeiro prémio da academia de Rouen.

Apesar das numerosas biografias publicadas após a sua morte, boa parte da sua vida permanece um mistério.

Não se sabe que estudos fez, embora se deduza da sua obra que estudou os clássicos e as mitologias grega e latina, que estudou francês e também latim.

A identificação das mulheres que amou é duvidosa e discutível.
A sua infância foi infeliz.

O pai foi preso , quando ele tinha seis anos e permaneceu na cadeia seis anos.
A sua mãe faleceu quando tinha dez anos.

Possivelmente ferido por um amor não correspondido, assentou praça como voluntário em 22 de Setembro de 1781 e permaneceu no Exército até 15 de Setembro de 1783.

Nessa data, foi admitido na Escola da Marinha Real, onde fez estudos regulares para guarda-marinha.

No final do curso desertou, mas, ainda assim, aparece nomeado guarda-marinha por D. Maria I.

Nessa altura, já a sua fama de poeta e versejador corria por Lisboa.
Em 14 de Abril de 1786, embarcou como oficial de marinha para a Índia, na nau “Nossa Senhora da Vida, Santo António e Madalena”, que chegou ao Rio de Janeiro em finais de Junho.

Na cidade, viveu na actual Rua Teófilo Otoni, e diz o "Dicionário de Curiosidades do Rio de Janeiro" de A. Campos - Da Costa e Silva, pg 48, que "gostou tanto da cidade que, pretendendo permanecer definitivamente, dedicou ao vice-rei uma poesia-canção cheia de bajulações, visando atingir seus objectivos.

Sendo porém o vice-rei avesso a elogios, fê-lo prosseguir viagem para as Índias".
Fez escala na Ilha de Moçambique (início de Setembro) e chegou à Índia em 28 de Outubro de 1786.

Em Pangim, frequentou de novo estudos regulares de oficial de marinha. Foi depois colocado em Damão, mas desertou em 1789, embarcando para Macau.

Foi preso pela inquisição, e na cadeia traduziu poetas franceses e latinos.
A década seguinte é a da sua maior produção literária e também o período de maior boémia e vida de aventuras.

"Já Bocage não sou!…À cova escuraMeu estro vai parar desfeito em vento…Eu aos céus ultrajei! O meu tormento Leve me torne sempre a terra dura.(…)
Bocage

Ainda em 1790 foi convidado e aderiu à Academia das Belas Letras ou Nova Arcádia, onde adoptou o pseudónimo Elmano Sadino.

Mas passado pouco tempo escrevia já ferozes sátiras contra os confrades.
Em 1791, foi publicada a 1.ª edição das “Rimas”.

Dominava então Lisboa o Intendente da Polícia Pina Manique que decidiu pôr ordem na cidade, tendo em 7 de Agosto de 1797 dado ordem de prisão a Bocage por ser “desordenado nos costumes”.

Ficou preso no Limoeiro até 14 de Novembro de 1797, tendo depois dado entrada no calabouço da Inquisição, no Rossio.

Aí ficou até 17 de Fevereiro de 1798, tendo ido depois para o Real Hospício das Necessidades, dirigido pelos Padres Oratorianos de São Filipe Neri, depois de uma breve passagem pelo Convento dos Beneditinos.

Durante este longo período de detenção, Bocage mudou o seu comportamento e começou a trabalhar seriamente como redactor e tradutor.

Só saiu em liberdade no último dia de 1798.
De 1799 a 1801 trabalhou sobretudo com Frei José Mariano da Conceição Veloso, um frade brasileiro, politicamente bem situado e nas boas graças de Pina Manique, que lhe deu muitos trabalhos para traduzir.

A partir de 1801, até à morte por aneurisma, viveu em casa por ele arrendada no Bairro Alto, naquela que é hoje o n.º 25 da travessa André Valente.

A 15 de Setembro, data de nascimento do poeta, é feriado municipal em Setúbal.

Filmes e séries
Em 2006 a história de Bocage foi adaptada para a
TV numa mini-série produzida pela RTP e protagonizada por Miguel Guilherme.

Bibliografia
Couto, António Maria do. Memorias sobre a vida de Manuel Maria Barbosa de Bocage;
Silva, José Maria da Costa e. Vida de M. M. B. du B. por Silva (in tomo IV das Poesias publicadas por Marques Leão);
Felner, Rodrigo José de Lima. Biographia (in Panorama, vol. IX, 1846);
Castilho, José Feliciano de. Noticia da vida e obras de M. M. de B. du B.;
Silva, Rebelo da. Memoria biographica e litteraria acerca de M. M. de B. du B.;
Estudo biographico e litterario (in edição completa das Poesias de Bocage, feita, em 1853);
Panorama, tomo X, 1853;
Xavier, F. N. Os documentos para a biographia de M. M. de B. du B. (in Archivo Universal);
Braga, Teófilo. Bocage;
Gonçalves, Adelto. Bocage, o perfil perdido. Lisboa, Editorial Caminho, 2003.
ISBN 972-21-1561-8;[1]
Aranja, Álvaro. Bocage, a Liberdade e a Revolução Francesa. Setúbal, Centro
de Estudos Bocageanos, 2003.

Wikipédia Google

É bem conhecido o carácter irreverente de Bocage.
Com efeito, da sua pena contundente saíram sátiras impiedosas, críticas ao modelo de sociedade, ao governo, aos poderosos de uma maneira geral.

O novo – riquismo, a mediocridade, as convenções sociais, o clero, os médicos, os avarentos e os literatos, entre outros, também foram objecto da sua observação rigorosa e da sua crítica corrosiva.

Recorde-se que a anemia e a estagnação que caracterizavam a sociedade portuguesa de finais do século XVIII eram um espartilho para uma personalidade que estava muito para além da mentalidade da época.

Coexistiam em Bocage a sensibilidade extrema, a ousadia aberta, a percepção aguda da realidade, a emotividade exuberante e o imenso talento.

Estes atributos, aliados a um repentismo fulminante e à sua permanente insatisfação relativamente aos valores dominantes e a determinados tabus, fizeram com que entrasse em rota de colisão com o poder, tendo sido preso por crime, de lesa majestade e, pouco depois, entregue às malhas mutiladoras da Inquisição.
O objectivo era a sua "reeducação".

Ao fim de poucos meses, foi libertado pois o perigo de converter alguns frades aos seus ideais era cada vez mais real...

Poder-se-á defender a tese de que Bocage incarnou o inconsciente colectivo do povo português.

Ele consubstanciou a voz do povo oprimido mas crítico que compensava com o riso, com a caricatura e com o ridículo a sua legítima insatisfação.

A filosofia de vida de Bocage – crítico, ousado, irreverente, boémio, popular, espontâneo – propiciou-lhe uma auréola notável e consequentemente uma legião de admiradores.

Comprova-o o facto de a sua personalidade ter sido incensada em mais de cem poemas da autoria de contemporâneos que tiveram o privilégio de com ele conviver.

Em contraponto e como corolário da sua frontalidade, registe-se que, obviamente, não foram poucos os seus detractores que acintosamente o atacaram em sátiras e polémicas que Bocage ia também ciosa e apaixonadamente alimentando.

Tendo em consideração que o povo português encarou Bocage como se de filho seu se tratasse, houve a tendência natural para lhe atribuir a participação activa em ocorrências cómicas, satíricas ou brejeiras.

Dir-se-ia que o seu aval tornaria as situações mais credíveis e humorísticas.

Os trinta livros de anedotas apresentados numa exposição pouco têm a ver com Bocage.
Pelo menos nada há escrito do seu punho de carácter anedótico.
A tradição oral encarregou-se de ir perpetuando todo este acervo, como se fosse da sua autoria.

Resta-nos apenas a filosofia subjacente a muitos destes livros, essa sim Bocageana, como muitos dos seus amigos - Pato Moniz, D. Gastão da Câmara Coutinho, Bingre, entre outros – testemunharam.

É bem verdade que Bocage foi a consciência crítica do povo, como já foi referido.
Mas não é menos verdade que houve editores que, para ganharem dinheiro facilmente, instrumentalizaram o seu nome, optando pelo primarismo e pela obscenidade.

Confundiram talvez conscientemente erotismo com pornografia, sensualidade com boçalidade, ironia subtil com sarcasmo.

O primeiro livro de anedotas atribuídas a Bocage de que há notícia remonta ao princípio do presente século e está directamente relacionado com a liberalização da sociedade portuguesa e com a comemoração do centenário do falecimento do escritor em 1905.
A partir desta data, inúmeras edições foram vindo a lume.

De extrema relevância é o facto de a auréola bocageana se ter propagado exuberantemente ao Brasil.

Com efeito, actualmente, o poeta tem mais livros à venda naquele país do que em Portugal e está amplamente representado na literatura de cordel brasileira, sendo o herói de aventuras tropicais e mirabolantes que ele não poderia ter protagonizado certamente na sua breve estada na Rua das Violas, no Rio de Janeiro, em 1786, a caminho de Goa.
Com o 25 de Abril, Bocage, poeta da Liberdade e do inconformismo, foi sendo cada vez menos o protagonista do anedotário popular.

A liberdade de expressão, finalmente readquirida, deslocou o "epicentro" das anedotas para outros intervenientes do nosso quotidiano.

Com ampla vantagem para o Bocage sonetista emérito, tradutor rigoroso, sátiro impiedoso, polemista incansável e arauto de uma sociedade em sintonia com os valores mais nobres da natureza humana.
Daniel Pires

(extraído de Exposição biobibliográfica comemorativa dos 230 e dos 190 anos do nascimento e da morte de Bocage. Setúbal: C.M.S., 1995)
Bocage, poeta da liberdade
Poesia erótica de Bocage
Bocage lírico
Bocage tradutor
Uma perspectiva brasileira de Bocage
Bocage anedótico

Vida Poemas e anedotas de Bocage

O autor aos seus versos
Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte, sem beleza e sem brandura,
Urdidos pela mão da Desventura,
Pela baça Tristeza envenenados:

Vede a luz, não busqueis, desesperados,
No mudo esquecimento a sepultura;
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados:

Não vos inspire, ó versos, cobardia
Da sátira mordaz o furor louco,
Da maldizente voz e tirania:
Desculpa tendes, se valeis tão pouco,

Que não pode cantar com melodia
Um peito de gemer cansado e rouco.
Bocage

Bocage, multifacetado, tinha como uma das suas características o dom do "Repentismo".
Sendo famoso pelas suas rápidas e mordazes respostas.

Conta-se; que certa vez saindo já noite larga do Café Nicola, um dos seus inúmeros amigos, resolveu pregar-lhe um susto.
Fingindo-se de assaltante, abordou-o e perguntou-lhe em tom agressivo:

- Quem és ? donde vens, e p'ra onde vais ?
De pronto Bocage respondeu:
Sou o poeta Bocage, venho do café Nicola, e vou para o outro mundo se disparas a pistola.


Derradeiro poema, com a morte anunciando-se.

Já Bocage não sou!...
À cova escura Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

Eu me arrependo;
a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidadeManchei!...
Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
Bocage

Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga,
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!

Pois manda Amor que a ti sòmente os diga
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel que a delirar me obriga.

E vós, ó cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!

Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar o meu coração de horrores
Bocage

Fachada da Casa onde o poeta morreu,
na Travessa de André Valente, no Bairro Alto em Lisboa.
Exausto por uma vida agitada, Bocage ali viveu os últimos tempos, regenerado pelo trabalho, purificado pelo sofrimento, confortado por amigos e admiradores, reconciliado até com velhos inimigos.
C.I.T.I.






Poemas de Bocage

De suspirar em vão já fatigado,
Dando trégua a meus males eu dormia;
Eis que junto de mim sonhei que via
Da Morte o gesto lívido, e mirrado:

Curva fouce no punho descarnado
Sustentava a cruel, e me dizia:
"eu venho terminar tua agonia;morre,
não peneis mais, oh desgraçado! "

Quis ferir- me, e de Amor foi atalhada,
Que armado de cruentos passa dores aparte,
e lhe diz com voz irada:

"Emprega noutro objeto os teus rigores;
que esta vida infeliz está guardada para
vítima só de meus furores."

publicado por Lumife

Poesia Erótica de Bocage

"... Eu mesmo a fui despindo, e fui tirando
Quanto cobria seu airoso corpo.
Era feito de neve; os ombros altos,
O colo branco, o cu roliço e grosso;

A barriga espaçosa, o cono estreito,
O pentelho mui denso, escuro, e liso;
Coxas piramidais, pernas roliças,
O pé pequeno ... Oh céus! Como é formosa!

Já metidos na cama em nívea Holanda,
Erguido o membro, té tocar no umbigo,
Qual Amadis de Gaula entrei na briga:
Pentelho com pentelho ambos unidos,

Presa a voz na garganta, ardente fogo
Exalávamos ambos; Nise bela
Ou fosse natural, ou fosse d'arte,
O peito levantado, ansiosa, aflita,

Tremia, soluçava, e os olhos belos Semi-mortos erguia ...

" [Barbosa du Bocage, in Poesias Eróticas Burlescas e Satíricas, S. Paulo, 1969]

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JJ edição fotos


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